segunda-feira, 18 de junho de 2012

Apenas não me pergunte



“Vai falar de novo que eu sou carente?” Ele perguntou, enquanto eu o afastava de um abraço.
“Mas você é carente!” Respondi.
“Vai dizer que você não gosta de abraços?” Ele insistiu em mais um.
“Agora não vale, você está se aproveitando de mim porque tá frio!”
“Então você também é carente!”
“Não, eu sou fria!”
“Não, você se faz de fria!”
Quem ele achava que era pra conhecer assim esse meu lado? Logo ele que me mal me conhecia. Mal sabia dos meus medos, meus reais desejos, minha vontade de ficar o dia inteiro agarradinha com qualquer um, menos ele. Porque era o último da minha infindável lista de “rolinhos” que não davam em um. E eu nem sei porque eu fui. Talvez porque era no meio do meu caminho de volta pra casa. Ou talvez eu tenha usado essa desculpa de modo a justificar pra minha amiga o porquê de eu ter ido. Mas eu ainda não sei.
Talvez eu tenha decidido, inconscientemente, dar uma chance ao pobre coitado que tanto queria me encontrar e só era tratado com patadas e mais patadas, sem motivo. Acho que era implicância. Ainda não conseguia entender porque ele insistia tanto. Mesmo depois daquela noite, naquela festa que eu fui encontrar outro e acabei encontrando-o por acidente. E ele ficou a noite inteira tentando, tentando e insistindo e eu que era sempre “não, não e não”.
E aquela outra noite que ele estava quase vindo falar comigo e minha amiga rapidamente me tirou dali, antes que eu o visse, antes que ele o conseguisse. E quando eu soube, exclamei “nossa, obrigada!”.
Eu sentia pena. E culpa por sentir pena. Mas como não sentir pena dele que era tão fofo, tão bobinho, tão bonzinho, tão sem chances. Mas fiz direito o meu papel: fiquei a noite inteira conversando com todos os amigos e o irmão que estavam à mesa, sem deixar de dar atenção pra ele, prestando atenção em cada particularidade nova que ele me contava. Particularidade que eu sempre arranco de cada um e que vai de um pequeno carocinho na orelha direita à problemas na família e no trabalho, que no final não me servem de nada.
 E como eu era má. E como eu era boa em ser má. E como eu estava ficando preocupada de alguém me ver ali naquela mesa. Não sei, talvez um rolo antigo, um caso novo ou até mesmo um possível affair. Não sei nem de onde veio aquele súbito peso na consciência de ter um cineminha marcado com outro para o dia seguinte. Mas “ninguém vai saber mesmo”.
E enfim eu permiti outro beijo. Aquele beijo com gosto de cigarro, cerveja e outros tóxicos que poderia ser tão ou mais duradouros e viciantes que os vícios comuns. Mas eu não posso, eu sou fria. E logo volto a pensar em como sentia pena dele por achar que estava me conquistando.
E deixei escapar um “você gosta de japonês?” já me arrependendo de ter perguntado, no mesmo momento, torcendo que ele não tenha escutado, mas ele já respondeu, todo contente: gosto, vamos marcar?
Também não sei de onde veio aquela vontade de fazer o que eu fiz depois: mandar uma mensagem, ao acaso, na mesma madrugada, só pra avisar que eu cheguei bem, mesmo que ele não tenha pedido.
E eu sigo nessa minha eterna confusão, nessa minha eterna contradição. Não sabendo se quero ou não, se sinto culpa, pena ou vontade de continuar. Se sinto confiança ou medo e se posso ganhar no meu próprio jogo ou perder numa reviravolta do destino.

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