terça-feira, 26 de junho de 2012

“Vai fundo, com o pé atrás”



Engraçado como eu sempre tive problema com títulos. Criava textos e textos e eles ficavam lá anônimos, incógnitos. Dessa vez o título veio antes do texto. Foi o conselho de uma amiga em relação a um casinho meu. “Lá vem essa garota falar de homem” é o que muita gente deve pensar, mas é inevitável querer escrever sobre meus amores inventados, esses amores não amores.
Mas com ele era diferente. Tenho quase certeza que não foi por acaso que o destino permitiu que a gente se encontrasse novamente. Porque seria coincidência demais a gente tanto se esbarrar assim à toa. Era pra ser uma vez só e acabou. Nem telefone, nem facebook, e-mail ou fax. Nós nunca mais iríamos nos ver e ponto. Era o nosso combinado.  Mas a lua, as estrelas... não sei o que foi que era tão forte pedindo pra gente se ver de novo, era tão forte que conseguiu. Acho que era tão bom que não podia ser uma vez só. Era o destino pedindo bis e falando “vai lá garota, aproveita, vocês são muito bons juntos, vocês merecem”.
Ele com certeza é mais importante que todos os outros. Não sei o que é, acho que é aquele jeito dele de que é o tal. E aquela implicância desnecessária. E aquele charme que faz o meu coração palpitar.  E aquela atitude de fazer tremer as pernas. E aquela desenvoltura que meu Deus do céu. E aquela barba máscula dando o toque final. E o arranjo disso tudo faz com que eu não me arrependa de correr atrás. Porque ele merecia eu ali, jogada aos pés dele, pronta pra ser pisada, pronta pra ser esmagada, me deliciando com isso.
E quando era ele que corria atrás eu era a vitoriosa, a Rainha da cocada preta. “Me mandou mensagem bêbado, amiga, acredita? Eu devo ser muito gostosa mesmo.”Tanto que quando eu cheguei no barzinho para o nosso encontro a primeira coisa que ele disse foi “nossa, você vai toda elegantezinha assim pra faculdade?” e eu não hesitei em responder “claro que não, meu bem, isso é tudo pra você”.
Se eu quero alguma coisa a mais com ele? Quero sim, quero muito, quero tudo, quero sempre! Quero pra sempre! Quero ficar ali deitada, fazendo carinho enquanto ele dorme no meu colo. Quero saber da vida dele, quero perguntar mais do que eu já perguntei. Quero ficar conversando a noite inteira, pra ele conhecer cada pedacinho meu. Quero sair pra passear na praia com o Golden Retriever lindo que ele tem, nós três caminhando na praia numa tarde ensolarada de domingo.
Mas com esse nosso histórico... ai maldito histórico! Quando ele ia querer alguma coisa com essa garota maluca que manda mensagem bêbada todo santo dia que bebe? O que eu faço? O que eu faço? Já sei, vou mandar mais uma mensagenzinha pra ele lembrar que eu to viva...não custa nada né?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Apenas não me pergunte



“Vai falar de novo que eu sou carente?” Ele perguntou, enquanto eu o afastava de um abraço.
“Mas você é carente!” Respondi.
“Vai dizer que você não gosta de abraços?” Ele insistiu em mais um.
“Agora não vale, você está se aproveitando de mim porque tá frio!”
“Então você também é carente!”
“Não, eu sou fria!”
“Não, você se faz de fria!”
Quem ele achava que era pra conhecer assim esse meu lado? Logo ele que me mal me conhecia. Mal sabia dos meus medos, meus reais desejos, minha vontade de ficar o dia inteiro agarradinha com qualquer um, menos ele. Porque era o último da minha infindável lista de “rolinhos” que não davam em um. E eu nem sei porque eu fui. Talvez porque era no meio do meu caminho de volta pra casa. Ou talvez eu tenha usado essa desculpa de modo a justificar pra minha amiga o porquê de eu ter ido. Mas eu ainda não sei.
Talvez eu tenha decidido, inconscientemente, dar uma chance ao pobre coitado que tanto queria me encontrar e só era tratado com patadas e mais patadas, sem motivo. Acho que era implicância. Ainda não conseguia entender porque ele insistia tanto. Mesmo depois daquela noite, naquela festa que eu fui encontrar outro e acabei encontrando-o por acidente. E ele ficou a noite inteira tentando, tentando e insistindo e eu que era sempre “não, não e não”.
E aquela outra noite que ele estava quase vindo falar comigo e minha amiga rapidamente me tirou dali, antes que eu o visse, antes que ele o conseguisse. E quando eu soube, exclamei “nossa, obrigada!”.
Eu sentia pena. E culpa por sentir pena. Mas como não sentir pena dele que era tão fofo, tão bobinho, tão bonzinho, tão sem chances. Mas fiz direito o meu papel: fiquei a noite inteira conversando com todos os amigos e o irmão que estavam à mesa, sem deixar de dar atenção pra ele, prestando atenção em cada particularidade nova que ele me contava. Particularidade que eu sempre arranco de cada um e que vai de um pequeno carocinho na orelha direita à problemas na família e no trabalho, que no final não me servem de nada.
 E como eu era má. E como eu era boa em ser má. E como eu estava ficando preocupada de alguém me ver ali naquela mesa. Não sei, talvez um rolo antigo, um caso novo ou até mesmo um possível affair. Não sei nem de onde veio aquele súbito peso na consciência de ter um cineminha marcado com outro para o dia seguinte. Mas “ninguém vai saber mesmo”.
E enfim eu permiti outro beijo. Aquele beijo com gosto de cigarro, cerveja e outros tóxicos que poderia ser tão ou mais duradouros e viciantes que os vícios comuns. Mas eu não posso, eu sou fria. E logo volto a pensar em como sentia pena dele por achar que estava me conquistando.
E deixei escapar um “você gosta de japonês?” já me arrependendo de ter perguntado, no mesmo momento, torcendo que ele não tenha escutado, mas ele já respondeu, todo contente: gosto, vamos marcar?
Também não sei de onde veio aquela vontade de fazer o que eu fiz depois: mandar uma mensagem, ao acaso, na mesma madrugada, só pra avisar que eu cheguei bem, mesmo que ele não tenha pedido.
E eu sigo nessa minha eterna confusão, nessa minha eterna contradição. Não sabendo se quero ou não, se sinto culpa, pena ou vontade de continuar. Se sinto confiança ou medo e se posso ganhar no meu próprio jogo ou perder numa reviravolta do destino.