domingo, 27 de maio de 2012

Devaneios etílicos


Lavava seus longos cabelos como se escoasse a culpa, a angústia e os demais males que lhe torturavam. A água que banhava seu corpo fundia-se às lágrimas que escorriam dos seus olhos, purificando sua alma. Precisava matar o que a matava, ainda que morresse de amores, mas não decidia nada, a ressaca que infernizava a cabeça e o estômago a impedia de raciocinar a respeito do que fazer. Como sobreviveria em um mundo estando sempre sóbria? Como aturaria aquelas pessoas tão normais? Afastava aquela lucidez que proibia um mundo atraente, completo, mais feliz, repleto de possibilidades. O que havia de errado com ela? "O que eu estou fazendo?", e também "como eu sou exagerada", "como eu sou patética". Os amigos a definiam como "a pessoa mais louca que eu conheço", mas ela acreditava que "a pessoa mais patética que eu já conheci" era a melhor definição. E exageros eram as melhores maravilhas do universo, em sua opinião,"quanto mais, melhor". Era jovem demais pra parar e livre demais pra não se perder. E medo era uma palavra não muito constante em seu vocabulário, por essa razão costumava se arrepender de todas as bobagens que sempre cometia. A opinião dos demais era o que parecia menos importar, sem sombra de dúvidas, mas toda aquela culpa - ah, a culpa - que carregava em seu peito por tanto tentar ser feliz a dilacerava por dentro. Como explicaria aos amigos - aqueles companheiros de noitadas, ouvintes de confissões, aliados de bebedeiras e tantas outras coisas - que havia parado efetivamente? Como explicaria a si que havia parado, quando vez ou outra passasse no barzinho e se deparasse com os amigos bebendo "aquela cervejinha"? E resistiria? Será que resistiria? Porque era fraca, como era fraca, e sabia que era a pessoa mais sem graça do universo sem influência etílica. Seus pais ficariam aliviados, definitivamente, mas ela perderia todo aquele alívio da fuga da clareza da realidade. E sofria, como sofria, sem saber porque, acreditando que só acabaria com esse sofrimento quando sua vida acabasse. Até cogitava suicídio, mas acabava por adiar, como sempre fazia com tudo," o destino é sensato e sabe o que faz, vai resolver isso por mim". Mas aí pensava em um futuro não muito distante que estaria perdendo, todos os lugares que desejava conhecer eram o escape imaginário para sua dor e nas histórias que contaria aos seus filhos antes de dormir sobre suas farras e já vibrava imaginando a reação deles, implorando por mais histórias e histórias. Estava prestes a tomar a decisão mais trabalhosa da sua vida, iria requerer um esforço surreal e certamente ficaria chateada se descobrisse que precisa da bebida pra se divertir. "Alcoólatra? Eu? Não, imagina, só to aproveitando a vida". Mas essa forma de aproveitar já havia causado mal em excesso. Será que assim poderia piorar? Ou melhor, pior do que estava será que dá pra ficar?

3 comentários:

  1. Já disse uma vez o Titã Sérgio Brito:

    “Devia ter complicado menos
    Trabalhado menos
    Ter visto o sol se pôr
    Devia ter me importado menos
    Com problemas pequenos
    Ter morrido de amor...”

    Nossa vida é feita de decisões. A cada segundo que passa, tomamos decisões que mudam nossas vidas, seja da escolha mais simples, como a roupa que usar, até a mais complicada de todas que varia de cada pessoa...

    Muitas vezes agimos por impulso, achando que vamos fazer a coisa certa... E acabamos errando, mas isso faz parte da vida de todo ser deste planeta!

    O que nos diferencia de muitos animais é a capacidade de reconhecermos nossos erros, e tiramos sempre um aprendizado deles.

    A canção acima, Epitáfio, está certa! Mas precisamos interpretar ela de forma correta. Não podemos viver nos perguntando do “Se”. Precisamos ter nossos momentos de reflexão sim, mas sabendo que a vida segue.

    Se “caímos” uma vez, é para que possamos nos levantar e continuar a viver!

    “The Show Must Go On!”, “Live And Let Die!”, “Don’t Stop Me Now!”

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