Eu
queria te pedir pra não estragar tudo como todos os outros sempre estragam. Não
passa de fofo pra escroto num estalar de dedos, porque eu não sei se consigo
aguentar tudo de novo. Porque eu tenho essa cara de forte, mas já fui tomada
pelo cansaço.
Mas
ao mesmo tempo eu quero que você estrague tudo, porque eu tenho medo. Tenho
medo de tudo, tenho medo do mundo. E tenho medo de ter medo. E tenho medo de me
machucar. Porque eu me conheço e sei que vou me machucar e sei que, entre nós
dois, eu vou ser a única a se ferir. Mas também porque eu tenho medo de trazer
à tona a esperançosa que vive de expectativas, a carente que te procura bêbada,
a louca que acha que pode te cobrar alguma coisa e tantas outras que vivem
dentro de mim. E não é possível que uma pessoa seja tão fofa a ponto de aturar
todas essas insuportáveis.
E
quero que você se mantenha longe de mim. Porque eu sei que eu já fiz mal a
tantos outros. E incomodei tantos
outros. E irritei tantos outros que às vezes acho que compreendo porque estou
melhor sozinha. É que eu irrito e me irritam. Eu enjoo e me enjoam. Eu canso e
me cansam. Eu enojo e me enojam. E a culpa deve ser minha por exigir demais.
Mas é que tudo que eu encaro como admirável se transforma em repugnante num
piscar de olhos, tão rápido que não dá pra explicar, só dá pra sentir, respirar
fundo e tocar a vida pra frente.
Eu
sei que às vezes exagero e eu até queria parar de pensar em todas essas coisas.
Mas como a gente faz quando tenta dormir e o sono da noite é corrompido por
toda essa infinitude de possibilidades que vêm parar nas nossas cabecinhas? Eu
tento ficar exausta, cair na cama e apagar, mas quando eu deito não consigo
deixar de analisar cada detalhezinho. Às vezes até viro a noite repensando, imaginando,
planejando e confabulando.
Vivendo
de expectativas, de ilusões, de como será que seria. E “o seu
problema é que você pensa demais” é a música que mais se repete na minha cabeça, como uma espécia de trilha sonora pra minha vida. Mas um dia eu hei de aprender a viver sem medo.
Vou me jogar de um lugar bem alto pra sentir o frio na barriga de como é viver
de verdade. Até lá continuo no meu mundo cinematográfico, esquematizado, meu
mundo de planos perfeitos que nunca dão certo, mas que continuam me dando
esperança pra acreditar que um dia vou ter meu final feliz.